sábado, outubro 04, 2008



Neste centenário de Machado não deveríamos nos ausentar, principalmente para destacar algumas de suas frases que se encontram com o momento histórico mundial, em plena crise do capitalismo, ou no nacional onde passamos por imensos choques sobre a forma de agir de nossas elites políticas.
Quanto ao primeiro tema, observaríamos a presença do furto do trabalho honesto do individuo em nossa sociedade, a partir do momento em que "mercadores" não se distinguem do "ladrão" em plena crise:

"Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: 'A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito.'"
Em "Esaú e Jacó" (1904)


No tocante ao momento nacional, dito como plenamente democrático, os provérbios do "bruxo do Cosme Velho" deveriam ecoar pelos limites comportamentais da consciência eleitoral, para aí sim construir uma nova sociedade sobre a ruína da antiga:

"Ouça-me este conselho: em política, não se perdoa nem se esquece nada."
Em "Quincas Borba" (1891)

"Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é idéia de publicistas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições, onde não há estética."
Em "Histórias de 15 Dias" (1º de abril de 1877)

sábado, maio 03, 2008

CANGAÇO MODERNO



Observamos o tempo que dista do nosso clássico bandido social, que habitava o imaginário popular brasileiro dos anos 20 aos 40 do século XX ao contemporâneo marginal brasileiro. Se por um lado o que os identifica, o que existe de comum é o preconceito contido em seu nascimento, berço, na sua baixa estima e visão de futuro. Por outro lado, a banalização da violência criou outras formas de banditismo, até mesmo familiar que se distanciam da violência rural que os diferencia.
Entorpecido pela mídia e sua constância, o "cidadão" se esvaiu, desapareceu do cenário sócio urbano por envergonhar-se de sua passividade política.


A vida nada significa!


As volantes possuíam também um paralelo com o presente, onde os 'meganhas' militares são tão ou mais ignóbeis.
"Dona Justiça" não é somente cega, tornou-se maldita. As palavras não possuem o mesmo sentido, as vírgulas são uma imposição. Seus soldados são reprovados pela OAB por um crasso analfabetismo operacional.
Nossos políticos alugam-se, vendem-se, na esperança de compor um patrimônio destacado, procuram fugir do rebaixamento social decretado pelo Estado.
O povo em sua ingenuidade permanece à mercê do destino.
A gravura de Aldemir Martins, mitifica o personagem social, já a charge da imprensa vulgariza o real.

domingo, abril 27, 2008

FOME: A IRRACIONALIDADE



A dinâmica das noticias sobre a crise da alimentação no mundo, trouxeram aos mais novos a reflexão sobre a famosa tese dos fisiocratas do século XVIII, mas para a minha geração as palavras de Josué de Castro ecoaram na cabeça de forma retumbante com lembranças sobre suas teses e teorias que o conduziram à FAO. Porém em meados dos anos 80, um geógrafo francês, um militante ecologista nos apresentou um dilema maior sobre a sociedade humana, seu livro "Utopia ou Morte", nos apresentava uma realidade muito maior a nível mundial que somente Celso Antunes seria capaz de concordar.
A entrevista destacada abaixo é um esboço de suas previsões:

"O destino ecológico do Planeta será decidido no Terceiro Mundo.
Esta parece ser a ideia-força de René Dumont, que se afirma um « militante terceiro-mundista», quando lhe perguntámos que laços ainda o ligavam ao movimento ecologista francês.
Para ele, «a fome do Terceiro Mundo é, em grande parte, um desastre ecológico. Ao contrário da mentira que tantos ainda sustentam e que há 10 anos, na Conferência de Estocolmo, tomou foros de cidade - só os países industrializados teriam problemas de ambiente... - o subdesenvolvimento significa para René Dumont o maior atentado não só contra os povos mas também e principalmente contra a Natureza.
«A nossa fartura - diz, referindo-se principalmente à França - é baseada na miséria dos outros.»
Os chamados países «ricos», ao explorar e pilhar os recursos naturais dos colonizados, não só escravizam os povos como destroem os seus ecossistemas.
Para ele, a primeira oposição a estabelecer, para explicar a moderna Mega-Crise, é contra o «colonialismo», do que decorre a palavra de ordem necessária:
«Descolonizar o homem é antes de mais descolonizar a Natureza.»
Este «trota-mundos», em incansável peregrinagem pela Terra dos explorados e espoliados, está em boa posição para denunciar o inimigo principal:
«A ecologia resume todos os nossos problemas, todas as nossas crises», diz ele, pondo fim aos que ainda falam de «combater a poluição» ou em «defender o ambiente».
SEM FLORESTA SÓ HAVERÁ INUNDAÇÕES E SECAS
Ao enunciar os absurdos que explicam o «apocalipse» actual, Dumont torna-se torrencial:
«Em cada minuto, vinte hectares de floresta húmida tropical desaparecem, comprometendo assim uma componente essencial do nosso ecossistema. Dentro de 10 anos na Costa do Marfim, dentro de vinte e cinco na África Central, dentro de trinta na Amazónia, não haverá mais floresta. Com a destruição das florestas do Himalaia, do Nepal e da Índia, aumentam as inundações e as secas, como o pude verificar no Paquistão, no Bangladesh e na Índia.»
Quanto aos climas, de que depende. a produção agrícola, diz este professor de Agronomia:
«Também estamos a degradar os climas: por combustão excessiva de energia fóssil, produção de gás carbónico, radioactividade das centrais nucleares, kripton radioactivo, aumento de poeiras. Os óxidos de azoto atacam a camada de ozono que nos protege dos raios ultravioletas.»"


René Dumont, conhecido ecologista francês, que se encontra em Portugal, afirma-se actualmente um militante terceiro-mundista
[(*) Este texto de Afonso Cautela, entrevista com René Dumont, foi publicado no jornal «Portugal Hoje», 17-2-1982]

terça-feira, abril 22, 2008

Bolsa Familia na contra-mão da História


Nos anos 40, em Vozes da Seca, de Gonzaga e Zé Dantas dirigiam-se ao ditador com a seguinte estrofe:
"seu doutor, os nordestinos têm muita gratidão/ pelo auxílio dos sulistas nessa seca do sertão/ mas doutor, uma esmola pra um homem que é são/ ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão// dê auxílio ao nosso povo/ encha os rios de barragem/ dê comida a preço bom/ não esqueça a açudagem/ livre assim nós da esmola/ que no fim dessa estiagem/ lhe pagamo inté os juros/ sem gastar nossa coragem"
O "bolsa família" não segue na contra-mão do preceito nordestino? Lula realmente não estaria dando um "tiro no pé da história"? Ou melhor, uma "esmola"!
Uma política que o próprio governo não considera assistencialista. Que denominação poderemos então aplicar?
Como estarão os professores de Geografia ensinando semelhante procedimento na atualidade?
Valei-me "São Josué de Castro"!

Historiografia e seus passos


“Gostaria de dar um exemplo. Havia um professor de história da Revolução Francesa, Marcel Reinhard. Eis como dava suas aulas: primeira meia hora, uma narrativa, uma pilhagem ou um incêndio de castelo, por exemplo, na época do Grande Medo. Em seguida, ele retomava aquela história de pilhagem para tentar ver o que ela podia fornecer do ponto de vista historiográfico. Aquilo não nos agradava muito. Pensávamos no exame. Tínhamos a impressão de que não havia muito a retirar do relato da pilhagem, e que seríamos reprovados. Com o tempo, me dei conta de que sua maneira de proceder era extremamente rica, misturava o concreto, o efeito de realidade, com a análise das lógicas de comportamento: aquilo era extremamente forte. Creio que tudo que é da ordem da experiência humana é útil para o historiador, mesmo se essa experiência deriva de narrativas. Mais vale termos o maior número de experiências humanas possíveis na existência, quando nos pretendemos historiador: isso facilita a adoção de uma ótica compreensiva com relação às pessoas do passado.”
(ALAIN CORBIN,o prazer do historiador, Entrevista concedida a Laurent Vidal, Tradução: Christian Pierre Kasper, http://www.scielo.br)

Nestes últimos tempos acordei para a realidade da história-depoimento, recrutando diversos pontos de vista sobre os mais variados fatos e acontecimentos da história local. Tenho procurado seguir as palavras de Corbin, principalmente no que ele expressa " Creio que tudo que é da ordem da experiência humana é útil para o historiador, mesmo se essa experiência deriva de narrativas. Mais vale termos o maior número de experiências humanas possíveis na existência, quando nos pretendemos historiador". O fundamental é que as dimensões fornecidas a um fato tornam-se amplas e variadas. A biografia de uma pessoa pode tornar-se mítica se o conjunto de dados que compõem a vida do biografado partem efetivamente de seus descendentes e da paixão com que colhem as informações procurando restaurar seus passos. Assim foi o que ocorreu com o processo de organização da pequena biografia-ensaio que compusemos sobre Irineu Corrêa, o herói do Trampolim do Diabo. Um mito que se revelou até onde sua neta, Dóris, nos permitiu desenhar com palavras nos depoimentos que ela colheu com familiares e amigos do pai. Assim é que compreendi tudo que minha vida significava tudo o que eu havia vivido e estudado. Passei ao resgate memorialístico, principalmente aquele que se voltava para completar a História Local a que eu me encontrava inserido. (na foto, o corredor Irineu Corrêa)

domingo, abril 20, 2008

SALVE, SALVE TIRADENTES!



Já diria Cecilia Meireles:

"Toda vez que o justo grita,o carrasco vem calar, quem não presta fica vivo,quem é bom mandam matar."

O "romanceiro" tornou-se o símbolo para uma geração que esperava libertar-se da opressão que a ditadura impunha.
Hoje, para as novas gerações, Tiradentes, perdeu a vasta cabeleira e barba, enfim o mito se esvaiu, nossos jovens desfraldaram seu liberalismo alienante, talvez, para ele
s, a única vacina que não os deixará se contaminar pelos empulhos ideológicos que nortearam outras gerações.
(foto: Cadeia Velha no Rio, derrubada em 1929)

O novo Palácio substituiu a "Cadeia Velha", Tiradentes é o seu nome, mas esconde em seu pórtico de entra um velho e conhecido rosto que retorna a história.
O "ovo da serpente" sempre se apresenta.
(foto: Palácio Tiradentes construído em 1929)

PELAS ESQUINAS DO BRASIL COLÔNIA...


"O Brasil colônia era uma região onde os ignorantes predominavam sendo quase atingidos pelo número de fanáticos. Doentes eram maioria e médicos inexistiam.
Curandeiros e feiticeiros trafegavam acompanhados de charlatões. Porém homens de envergadura pública juntaram-se aos velhacos tornando-se fato dominante em nossa sociedade."

(Reportagem cultural do Segundo Caderno do jornal O Globo, 2006)

Os retratos atuais dos personagens políticos e suas identidades se comparados ao passado, não são mera coincidência, mas um espelho.
Que país é este? Onde os homens que fazem a legislação da pátria, programa que deve reger toda a sociedade, determinam seus próprios salários e condutas e se intitulam "novos-príncipes" em uma nova ordem social.