terça-feira, abril 22, 2008

Historiografia e seus passos


“Gostaria de dar um exemplo. Havia um professor de história da Revolução Francesa, Marcel Reinhard. Eis como dava suas aulas: primeira meia hora, uma narrativa, uma pilhagem ou um incêndio de castelo, por exemplo, na época do Grande Medo. Em seguida, ele retomava aquela história de pilhagem para tentar ver o que ela podia fornecer do ponto de vista historiográfico. Aquilo não nos agradava muito. Pensávamos no exame. Tínhamos a impressão de que não havia muito a retirar do relato da pilhagem, e que seríamos reprovados. Com o tempo, me dei conta de que sua maneira de proceder era extremamente rica, misturava o concreto, o efeito de realidade, com a análise das lógicas de comportamento: aquilo era extremamente forte. Creio que tudo que é da ordem da experiência humana é útil para o historiador, mesmo se essa experiência deriva de narrativas. Mais vale termos o maior número de experiências humanas possíveis na existência, quando nos pretendemos historiador: isso facilita a adoção de uma ótica compreensiva com relação às pessoas do passado.”
(ALAIN CORBIN,o prazer do historiador, Entrevista concedida a Laurent Vidal, Tradução: Christian Pierre Kasper, http://www.scielo.br)

Nestes últimos tempos acordei para a realidade da história-depoimento, recrutando diversos pontos de vista sobre os mais variados fatos e acontecimentos da história local. Tenho procurado seguir as palavras de Corbin, principalmente no que ele expressa " Creio que tudo que é da ordem da experiência humana é útil para o historiador, mesmo se essa experiência deriva de narrativas. Mais vale termos o maior número de experiências humanas possíveis na existência, quando nos pretendemos historiador". O fundamental é que as dimensões fornecidas a um fato tornam-se amplas e variadas. A biografia de uma pessoa pode tornar-se mítica se o conjunto de dados que compõem a vida do biografado partem efetivamente de seus descendentes e da paixão com que colhem as informações procurando restaurar seus passos. Assim foi o que ocorreu com o processo de organização da pequena biografia-ensaio que compusemos sobre Irineu Corrêa, o herói do Trampolim do Diabo. Um mito que se revelou até onde sua neta, Dóris, nos permitiu desenhar com palavras nos depoimentos que ela colheu com familiares e amigos do pai. Assim é que compreendi tudo que minha vida significava tudo o que eu havia vivido e estudado. Passei ao resgate memorialístico, principalmente aquele que se voltava para completar a História Local a que eu me encontrava inserido. (na foto, o corredor Irineu Corrêa)